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Desempenho do BNDES é o pior em 20 anos

Desempenho do BNDES é o pior em 20 anos
01/02/2017

Os números do desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado, divulgados ontem, refletiram, mais uma vez, a situação de crise econômica do país depois de dois anos de recessão. Em porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), os desembolsos do BNDES chegaram ao menor nível em 20 anos em 2016. O banco emprestou R$ 88,2 bilhões no ano passado, valor que representa cerca de 1,4% do PIB (considerando o valor de PIB usado pelo Banco Central para calcular as estatísticas fiscais). Antes de 2016, a menor participação foi registrada em 1996, quando os desembolsos representaram em valores da época, 1,1% do PIB, segundo dados da própria instituição.

Ao comentar o desempenho do banco, o economista Fábio Giambiagi, superintendente da área de planejamento e pesquisa da instituição, disse que o retorno ao patamar de desembolso de R$ 100 bilhões não está em perspectiva imediatamente. “Não trabalhamos com perspectiva de R$ 100 bilhões este ano. Não seria realista.” Em 2015, os desembolsos do banco somaram R$ 135,9 bilhões a valores constantes, corrigidos pela inflação. O pico de desembolsos foi em 2010, com R$ 246,3 bilhões ainda a valores constantes.

Foi justamente em 2010 que os desembolsos do banco atingiram o auge como proporção do PIB. Naquele ano, representaram o equivalente a 4,3% do PIB. Isso significa que, em apenas seis anos, os desembolsos encolheram dois terços. As consultas – que indicam o investimento futuro – também estão no menor patamar em 20 anos e encolheram de 6,7% do PIB em 2009 para 1,7% no ano passado.

A política que permitiu ao BNDES alcançar esses patamares expressivos de financiamento é também responsável por uma parcela do déficit fiscal que hoje consome o setor público e afeta a própria retomada da economia. E ainda não está claro qual foi a efetiva ajuda dessa montanha de dinheiro para a formação de uma estrutura produtiva mais eficiente. A política anterior errou ao subsidiar, com dinheiro do contribuinte, investimentos que poderiam (e deveriam) ter sido financiados de outra forma (de preferência no próprio mercado de capitais).

Giambiagi disse que o BNDES não é uma “ilha” na economia brasileira. Citou a queda acumulada de quase 28% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em três anos, entre o terceiro trimestre de 2013 e o mesmo trimestre de 2016. E citou uma queda de 8,3% no PIB, em termos dessazonalizados, entre o primeiro trimestre de 2014 e o terceiro trimestre do ano passado. Segundo ele, o crescimento do desembolso do BNDES está associado à dinâmica do investimento na economia, o que o banco vê com algum otimismo, mas Giambiagi reconheceu que esse indicador requer prazo de amadurecimento para mostrar seus efeitos.

Em 2016, o banco registrou queda em todas as fases de operação de concessão de crédito. Os desembolsos recuaram 35% no ano passado, na comparação com o ano anterior. Os R$ 88,2 bilhões representam o pior resultado desde os R$ 81,6 bilhões de 2003 a valores constantes. As consultas caíram 11% em 2016, para R$ 110,3 bilhões. As consultas são o primeiro passo para o empréstimo no banco e funcionam como indicador para medir o interesse do empresariado por novos investimentos. Os enquadramentos de empréstimos caíram 16% no ano passado, para R$ 98,6 bilhões. E as aprovações de crédito recuaram 28%, para R$ 79,2 bilhões.

Giambiagi disse que há sinais “incipientes” que levam o banco a ter “otimismo moderado”, porém “crescente”, em relação ao futuro. Estimou que o BNDES começa 2017 com níveis de desembolso inferiores aos mesmos meses de 2016. “Com base no histórico, dá para imaginar que começaremos o ano com níveis de desembolso, em linhas gerais, inferiores aos de 2016.” Segundo ele, não haverá crescimento dos desembolsos se também não houver recuperação nas consultas feitas ao banco.

Na visão dele, há indicadores importantes, como a queda da inflação e dos juros, que tendem a ter uma influência positiva sobre a demanda futura do banco. “Temos sinais que, se continuarem, poderão pavimentar terreno para a recuperação [da economia]. Há elementos [inflação e juros] que permitem supor que economia poderá ter evolução ao longo de 2017, favorável em relação ao ponto que nos encontramos agora.” Ele disse que o departamento econômico do banco trabalha com uma taxa básica de juros de um dígito no fim do ano, na faixa de 9,50 a 9,75%.

Nesse cenário, ele defendeu que o setor real da economia se prepare para a possibilidade de uma recuperação. Previu que quem não estiver preparado pode terminar perdendo participação para concorrentes em 2019. “Olhando em perspectiva para além de 2017, em um cenário em que uma série de peças do quebra-cabeça [da economia] comece a se encaixar ao longo de 2017 e 2018, podemos ter em 2019, dependendo da confirmação das políticas, um ciclo muito positivo para a economia brasileira”, projetou o economista.

Setorialmente, houve em 2016 queda na liberação de recursos para praticamente todos os grandes segmentos. Os desembolsos para a indústria caíram 18%, para R$ 30,1 bilhões; no setor de infraestrutura, a queda foi de 53%, para R$ 25,9 bilhões. Já os desembolsos para o segmento comércio e serviços caíram 40%, para R$ 18,3 bilhões. A agropecuária foi o único destaque positivo. Os desembolsos para o setor totalizaram R$ 13,8 bilhões, o que representa uma alta de 1%.

Em uma análise mês a mês, se conclui que os desembolsos por setor em 2016 foram quase todos negativos, com algumas exceções. A previsão do banco é que essa taxa negativa vá sendo reduzida de forma gradual. Mas olhando de hoje em relação ao passado recente, a impressão que se tem é que o BNDES se recolhe além do necessário nesse momento de retomada.

Fonte: Valor via Portos e Navios